O Gerente de Produto no mundo digital

Rogério Marques

29 junho 2017 - 20:17 | Atualizado em 29 março 2023 - 17:42

Mulheres em mesa de escritório olhando para tela de computador

O papel do gerente de produto está crescendo devido à importância crescente dos dados no processo decisório, aumento no foco no design e no consumidor, e à evolução das metodologias de desenvolvimento de software.

Gerentes de Produto

São a cola que une os setores presentes no produto – engenharia, design, sucesso junto ao consumidor, vendas, marketing, operações, finanças, jurídico, e mais. Eles não só decidem o que é, de fato, construído mas também influenciam todos os aspectos de como ele será construído e lançado.

Ao contrário dos gerentes de produto do passado, que se focavam primariamente na execução, sendo medidos pela entrega de projetos de engenharia no prazo, o gerente de produto atual é, cada vez mais, um mini CEO do produto. Eles atuam em várias frentes, aplicando uma ampla base de conhecimento na tomada de decisões que envolvem trade-offs, bem como liderando muitos times multifuncionais, assegurando o alinhamento entre diversas funções. E mais, a gestão de produto está emergindo como um novo centro de treinamento para futuros CEOS da área de tecnologia.

À medida que mais empresas fora do setor de tecnologia empenham-se em construir capacidades de software para o sucesso na era digital, é crítico que estabeleçam corretamente o papel de gerente de projetos.

Por que você precisa de um gerente de produto que pensa e age como um CEO?

A emergência do gerente de produto mini CEO é impulsionada por um número de mudanças na tecnologia, nas metodologias de desenvolvimento e nas formas pelas quais os consumidores compram. Juntas, elas se constituem em um argumento consistente em prol de um gerente de produto global, mais orientado para fora, e que gasta menos tempo supervisionando a execução diária da engenharia, enquanto ainda comanda o respeito desse setor.

Dados permeiam o processo decisório

Atualmente, as empresas têm grande riqueza de dados externos e internos, utilizando-os para tomar toda a decisão de produto. É natural para gerentes de produto – que estão mais próximos dos dados – ter um papel mais amplo. O sucesso do produto também pode ser claramente medido por um vasto conjunto de métricas (engajamento, retenção, conversão, e assim por diante) em um nível mais granular, e gerentes de produto normalmente têm muita influência sobre tais métricas.

Produtos são construídos de formas distintas

Os gerentes de produto funcionam em duas velocidades: eles planejam os novos recursos diários e semanais, assim com o roadmap de produto para os próximos seis a 24 meses. Os gerentes de produto gastam muito menos tempo escrevendo requisitos e condições para novos produtos; em vez disso, devem trabalhar proximamente com times diferentes para obter feedback, reforçando-os mutuamente.

Produtos e seus ecossistemas estão se tornando mais complexos

Enquanto os produtos software como serviço (Saas) estão se tornando mais simples para os consumidores, com características modulares em vez de um único lançamento monolítico, eles estão se tornando cada vez mais complexos para gerentes de produto.

Hoje, gerentes têm que supervisionar múltiplos pacotes, níveis de preços, preços dinâmicos, upselling, e estratégia de preços. Os ciclos de vida também estão se tornando mais complexos, com expectativa de novas funções, de melhorias frequentes, e de atualizações após a compra.

Ao mesmo tempo, o valor do ecossistema subjacente está crescendo: produtos modernos estão cada vez mais apenas um elemento em um ecossistema de serviços e negócios relacionados. Isso levou à mudança nas responsabilidades do desenvolvimento de negócio e de marketing ao gerente de produto.

Novas responsabilidades para gerentes de produto incluem supervisionar os API como produtos, identificar e estabelecer parcerias chave, administrar o ecossistema de desenvolvimento e mais.

Mudanças no “modulo de execução”

Além de desenvolvedores e testadores, os times de desenvolvimento de produto incluem operações, análise de dados, design e marketing de produto que trabalham juntos em “módulos de execução” para aumentar a velocidade e a qualidade do desenvolvimento de software. Em muitas organizações, o modelo DevOps está removendo silos organizacionais e permitindo aos gerentes de produto obter amplos insights multifuncionais, chegando a soluções robustas de produto de forma mais efetiva.

Consumerização da TI e o papel destacado do design

Na medida em que softwares amigáveis e integrados permeiam a nossa vida, os usuários corporativos também esperam uma experiência superior. O gerente de produtos moderno precisa conhecer o consumidor intimamente. Isso significa ser obcecado pelo uso de métricas e na construção de empatia com o consumidor meio de canais digitais, entrevistas, exercícios de acompanhamento de usuário para observar, escutar e aprender como as pessoas de fato usam os produtos.

Três arquétipos de gerentes de produto mini CEO

Existem três tipos comuns do arquétipo de mini CEO: tecnologistas, generalistas e orientados para os negócios.

Esses três perfis representam o foco primário, porém não o único, do gerente de produtos mini CEO; como qualquer CEO, eles trabalham em múltiplas áreas (por exemplo, espera-se que um gerente de produto tecnologista esteja no controle das métricas do negócio.

A maior parte das empresas de tecnologia hoje tem um mescla de tecnologistas e generalistas.

mini CEO

Com o surgimento desses três arquétipos, o gerente de projeto é um arquétipo que está sumindo, um legado das empresa de produto. O papel de execução diária de engenharia é hoje tipicamente conduzido por um gerente de engenharia, gerente de programação ou scrum master.

Isso concede maior poder ao gerente de produto, pois a razão gerente de produto/engenheiros é de 1/12, versus a antiga razão 1/5.

Temas comuns nos três arquétipos

Um foco intenso no consumidor é proeminente entre os gerentes de produto. Por exemplo, gerentes de produto na Amazon têm o dever de escrever notas de imprensa desde a perspectiva do consumidor, de modo a cristalizar o que eles creem que os consumidores pensarão sobre um produto, mesmo antes de o produto ser desenvolvido.

Essas notas então servem como mecanismo de aprovação para o próprio produto.

Existem, todavia, diferenças em como os gerentes de produto conectam-se com os usuários. Enquanto um tecnologista pode gastar tempo em conferências da indústria falando a outros desenvolvedores ou lendo Hacker News, o generalista normalmente gasta seu tempo entrevistando clientes, falando com a equipe de vendas ou revisando a composição das métricas.

Um novo campo de treinamento para CEO

Gerentes de produto modernos estão crescentemente ocupando cargos de CEO em empresas de tecnologia.

Antes de se tornarem CEOs da Google, Microsoft e Yahoo, Sundar Pichai, Satya Nadella e Marissa Mayer eram gerentes de produto, e aprenderam como influenciar e liderar equipes ao guiar produtos do planejamento ao desenvolvimento, passando pelo lançamento, até o pós-venda. Tal experiência também é valiosa fora das indústrias de tecnologia: a CEO da PepsiCo Indra Nooyi começou a sua carreira no desenvolvimento de produtos – com cargos na Johnson & Johnson e na Mettur Beardsell, uma empresa têxtil.

Embora hoje tal background ainda seja raro entre os CEOs, os programas rotacionais de gerentes de produto são os novos programas de desenvolvimento de lideranças para muitas empresas de tecnologia (por exemplo, veja os programas Rotational Product Manager Program do Facebook, o Associate Product Manager Program do Google, e o Rotation Program da Dropbox).

Qualquer crítico da analogia entre gerente de produto e CEO apontará que os gerentes de produto não têm responsabilidades diretas sobre o lucro e a perda, além dos milhares de relatórios, de modo que é crítico para os gerentes de produtos que aspiram a cargos executivos fazer a transição para cargos de alta administração para ampliar a sua experiência.

O gerente de produto do futuro

No decorrer dos próximos três a cinco anos, vemos o papel do desenvolvimento do produto continuando a evoluir em direção a um foco mais profundo em informação (sem perder empatia por usuários) e grande influência em decisões não relacionadas a produtos.

Os gerentes de produto do futuro serão os gurus dos dados, confiando menos neles para questões básicas. Eles serão capazes de executar o Hadoop para analisar o cluster na Amazon Web Services, verificar os dados de uso, analisá-los e retirar insights. Eles serão adeptos da aplicação dos conceitos de machine learning, ferramentas especificamente designadas a aperfeiçoar o processo decisório do gerente de produto.

Nós antecipamos que a maioria dos gerentes de produto gastarão pelo menos 30% do seu tempo em atividades externas como o engajamento com consumidores e em ecossistemas de parceria. Tal engajamento não será limitado a produtos de consumo – na medida em que a consumerização da TI continuar, os gerentes de produtos B2B se conectarão diretamente com usuários finais em vez de extrair feedback por meio de múltiplos canais de vendas e outros intermediários.

Da mesma forma, o background de gerentes de produto do futuro evoluirá para estar à altura desse novo papel. Uma formação em ciência da computação permanecerá essencial e será suplementada pela experiência e trabalho em design. Os gerentes de produto saberão como criar mock-ups e propor plataformas e API para prototipar rapidamente um produto ou característica. Os gerentes de produto normalmente começarão suas carreiras ou como engenheiros ou como parte de um programa rotacional.

Depois de três a quatro anos, ele podem fazer um MBA executivo ou MBA em Gestão de Produto, que está se tornado uma área focal de muitos programas de MBA, e esperamos que se tornem mais prevalentes.

Um aspecto chave do perfil do futuro do gerente de produto será transições frequentes entre produtos e até mesmo empresas. Um gerente de produto em uma empresa de ponta de tecnologia nos disse: “para ter sucesso aqui, é crítico que você esteja aprendendo constantemente não só novas tecnologias, mas também novos modelos de negócios. Por isso contratamos muitos profissionais lateralmente da Google, Amazon e Vmware e encorajamos nossos gerentes de produto a fazer rotação entre diferentes linhas de produto.”

Começando: redefinindo a função de desenvolvimento de produto

Recomendamos que organizações comecem com uma avaliação minuciosa de suas capacidades atuais de desenvolvimento de produto em seis áreas: experiência do consumidor, orientação para o mercado, tino comercial, capacidades técnicas, habilidades interpessoais, e a presença de promotores organizacionais.

Companhias normalmente focam na excelência de uma a três áreas, e em estar na média nas outras três.

gerente de produto

Uma vez que a companhia tenha estabelecido um parâmetro para suas capacidades de desenvolvimento de produto, ela tipicamente segue dois caminhos paralelos – contratar novos talentos em áreas estratégicas e investir em programas de capacitação dos talentos existentes.

Para os últimos, uma abordagem generalista-tecnologista provou funcionar melhor, em que gerentes de produto trabalham em projetos reais com coaching e feedback regulares.

O desenvolvimento de software precisa ser uma estratégia prioritária para todas as empresas na era digital atual. Gerentes de produto têm um papel estratégico, servindo como conexão entre equipes de engenharia e outras partes da organizações. Arquétipos distintos emergiram em empresas tecnológicas líderes que podem apontar o caminho para organizações construírem suas habilidades digitais.

Artigo original: “Product managers for the digital world
Autoria:Chandra Gnanasambandam, Martin Harrysson, Shivam Srivastava, and Yun Wu

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