Inovar não é o bastante – fintechs precisam de uma vantagem competitiva

Bruno Zago

08 novembro 2019 - 13:49 | Atualizado em 29 março 2023 - 17:34

Imagem de um celular com imagens saindo dele

O setor financeiro é muito dependente da tecnologia. Como instituições financeiras e companhas de tecnologias adotam posturas similares, inovar simplesmente não é o bastante. E se empresas têm interesse em maximizar sua vantagem competitiva, precisarão ter sucesso em áreas prioritárias, porém complicadas.

O setor financeiro enfrenta disrupção sem precedentes, com fintechs na vanguarda das mudanças. Hoje, mais de 25% da geração X nunca visitou uma agência física de seu banco, e 39% dela considera operar totalmente de forma digital.

Livres dos sistemas legados de grandes instituições financeiras, as fintechs introduziram a ideia de que os serviços bancários deveriam focar no autoatendimento do tipo mobile, 24 horas por dia, sete dias por semana. Com o crescimento das fintechs, os grandes bancos seguiram a mesma tendência.

Para sobreviver à disrupção que iniciaram, todavia, as fintechs devem encontrar algo que as diferencie, uma vantagem competitiva no mundo digital.

Mais inovação significa mais oportunidades

Em resposta à demanda crescente dos clientes por mais flexibilidade e conveniência, grandes instituições financeiras estão desenvolvendo suas próprias soluções tecnológicas: e as inovações vem de lugares inesperados. A Capital One tem seus próprios laboratórios de inovação. O Morgan Stanley usa aprendizagem profunda para medir as expectativas dos analistas financeiros. Charles Schwab fez grandes investimentos em dados e analytics, e outras instituições importantes não ficam muito atrás.

No entanto, as grandes instituições financeiras não são as únicas que merecem atenção. Alguns dos grandes nomes do mundo da tecnologia já estão investindo em mobile banking. WhatsApp, que é de propriedade do Facebook, permite pagamentos entre usuários. O Facebook contém seu próprio sistema de pagamentos incluído no Messenger. O Google Pay permite aos usuários pagarem suas compras on-line, e o Apple Cash permite o envio de dinheiro por voz via Siri.

A concorrência crescente, os problemas regulatórios, e os altos custos de aquisição de clientes indicam para uma consolidação rápida. “Grandes instituições financeiras precisam desenvolver ou adquirir inovações para manter e expandir sua posição de liderança. Na medida em que os clientes exigem novas tecnologias, veremos bancos adquirindo fintechs e seus serviços para servir seus clientes”, explica David Blumberg, fundador e gestor da Blumberg Capital. “Além disso, a revolução fintech está expandindo o mercado, possibilitando que, no futuro, as próprias fintechs se tornem grandes instituições financeiras.”

É assim que as fintechs – destinadas a serem compradas ou crescer – se diferenciam em um mercado altamente competitivo:

1. Ofereça luxos pela metade do preço

Apesar de os clientes desconfiarem muito das instituições financeiras, costumam ser leais a elas. Em uma pesquisa da Blumberg Capital, 30% dos clientes americanos disseram que não mudariam de banco por nenhuma razão. E agora que grandes instituições se tornaram mobile, um aplicativo atraente não é o bastante para atrair clientes. 

No entanto, 46% dos pesquisados relataram que mudariam de banco caso um concorrente oferecesse taxas menores, e 67% deles buscam bancos com tecnologia que vai além de serviços tradicionais. Fintechs que querem conquistar esses clientes precisam tratá-los de forma individualiza, com taxas baixas e um leque de opções bancárias.

O Starling Bank, por exemplo, encontrou seu nicho ao integrar ferramentas de gestão de portfólio em seu aplicativo de mobile banking: permite que seus clientes operem fora do país sem cobrar taxas extras. O Monzo paga seus clientes um dia antes, colocando seu dinheiro em “potes” de poupança.

2. Atenda às necessidades de populações atualmente sem atendimento

O outro lado do luxo é prestar serviços básicos a população não atendidas ou parcamente atendidas pelos bancos. Elas têm sido amplamente ignoradas, e consistem em pessoas que não falam inglês, que não tem identificação tradicional, ou de indivíduos de baixa renda.

Mais de 14 milhões de adultos nos Estados Unidos não tem conta em banco, o que dificulta pagar contas ou poupar dinheiro de forma segura. Não ter dinheiro suficiente foi a principal razão levantada por uma pesquisa do FDIC para não ter conta em banco, porém 14% dos entrevistados citaram falta de documentos, escassez de crédito e problemas passados com bancos razões para tal. Nova oportunidade para as fintechs.

Por exemplo, a IDology encontrou sua vantagem competitiva no atendimento das necessidades de indivíduos sem banco ou mal atendidos através da criação de uma ferramenta de verificação universal de identidade. Outra startup chamada Propel criou o aplicativo Fresh EBT para atender consumidores que usam créditos do programa SNAP para fazer compras. A Propel concluiu que muitas pessoas de baixa renda têm dificuldades para contratar planos de dados, então, desenvolveu uma funcionalidade off-line que possibilita vincular múltiplos cartões EBT a um único dispositivo para atender consumidores que partilham um celular com membros de sua família.

3. Seja pioneiro

Inovação é a essência do sucesso das fintechs. Para superar seus concorrentes, precisam ser pioneiras.

“Para startups fintechs, velocidade importa”, nota Andrey Kudievskiy, CEO e fundador da Distillery. “Você não pode permitir que seus concorrentes lancem primeiro, logo, precisa construir, executar e inovar mais eficientemente do que eles. “Em outras palavras, perfeito é inimigo do bom quando o assunto é disrupção fintech.

Com o desemprego em queda nos Estados Unidos, atrair grandes talentos que possam ajudá-lo a inovar com rapidez continua sendo o maior desafio dos empregadores – em especial, para startups sem dinheiro. Terceirizar ou co-criar concede às empresas a flexibilidade para adquirir talentos sem custo de tempo e financeiro de recrutamento, contratação e aclimatação.

4. Priorize a segurança

Três quartos dos norte-americanos se preocupam com a segurança dos serviços bancários, segundo a pesquisa Blumberg – e, talvez, deveriam. O vazamento da Equifax expôs os dados pessoais de mais de 147 milhões de pessoas, e o da Capital One, 100 milhões.

Na medida em que mais fintechs entram no mercado, não podem arriscar a questão de segurança. Na verdade, a popularidade crescente dos pagamentos on-line e o número crescente de clientes que tiveram seus dados roubados cria novas oportunidades para empresas especializadas em soluções inovadoras de segurança.

Por exemplo, Jumio, uma companhia de pagamentos on-line e verificação de identidade baseada em IA, usa inovações como biometria facial, detecção 3D e autenticação pessoal para evitar fraudes e simplificar a autenticação.

Com grandes bancos investindo em inovação e gigantes de tecnologia se aventurando em finanças, as fintechs devem continuar a superar seus concorrentes. Seja conquistando participação de mercado ou criando parcerias com instituições maiores, a chave de sucesso das fintechs é desenvolver ofertas muito boas para serem ignoradas.

 

Artigo traduzido e adaptado do original “Innovation Isn’t Enough — FinTech Needs a Competitive Edge“, publicado por Desireé Duffy no Equities.

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